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O Tempo é mesmo terrível?

data-filename="retriever" style="width: 100%;">É verdade, o Tempo é mesmo terrível. Além de tudo para octogenários como eu - ainda que não pareça! Imploro aos que leem o quanto aqui escrevo que me digam que pareço ter cinquenta e poucos anos!

De repente, me dei conta de que me restam poucas horas, bem poucas, para enviar um artiguinho ao meu Diário de Santa Maria! Artiguinho para ser publicado na edição de amanhã! Bah tchê!

Entro em parafuso, de verdade, e na minha vetusta imaginação precoce (é isso mesmo ou precoce imaginação vetusta?), encontro um velho amigo meu, o Pacheco. Conversamos sem parar em torno de nossas leituras e dubiedade. Parte delas por deleite, outra por ofício. Ler para escrever em jornais e mais e mais. Para compormos desde pequenas crônicas a outros textos somos obrigados a percorrer literaturas e subliteraturas. Disse-lhe então, repentinamente, que o melhor são as leituras que praticamos por diletantismo.

Quanto a mim, uma que me conduziu à verificação de que o Tempo [com maiúscula!] é uma convenção. Daí que os acontecimentos não são encadeados, nem subsequentes. Que nada impede que o antes ocorra depois e este plect que faço com os dedos, agora, seja mais longo do que a eternidade.

- Então, é uma confusão, disse Pacheco.

- Que nada, respondi-lhe. É só uma questão de adaptação à contemporização.

Leva um tempinho, podemos mesmo gastar a eternidade, mas vai.

O Pacheco me olhou de esguelha, desconfiado de que andei bebendo.

- Olha aqui, cara - disse-lhe então. Você precisa entender que a consciência existe para além da existência material do corpo.

- Se não é porre, você está virando espiritualista. Quem diria, hein! De repente detonado pela religião! - prosseguiu o Pacheco.

- Nada disso, mesmo porque sempre estivemos o tempo todo, mesmo ao cumprir tarefas políticas, procurando religarmo-nos. Religião é isso, reunião. Volta ao todo. Basta superarmos a ilusão de que existimos separadamente. Você está equivocado quando supõe que a ciência é capaz de explicar a consciência. Olha aqui - prossegui - a ciência pode vir a ser, se já não estiver sendo, uma limitação, uma censura da consciência, do pensamento...

O Pacheco pediu-me que mudássemos de assunto, passássemos a falar de futebol, de mulheres, de livros, revistas e jornais. Tentei então reconstituir mediante gestos e palavras o que aconteceu, está a acontecer e acontecerá em nossas vidas, todas elas, as vidas de todos nós.

Momentos terríveis, pois o Tempo é terrível. Terrível este que enfrento agora, restando-me poucas horas para enviar mais um artiguinho ao meu Diário de Santa Maria!

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